Julho 4, 2024

Audiência pública sobre Hospital Regional se aproxima do problema, mas se dispersa

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Considerada a notícia divulgada ontem pela Câmara Municipal de Piracicaba, a audiência pública realizada sobre o Hospital Regional revelou um misto de desconhecimento – por parte dos vereadores – sobre os protocolos de saúde em uma unidade com as dimensões e a complexidade de um HR, e de distanciamento dos edis aos centros de decisão do estado para se ter informações objetivas sobre problemas e desempenho da unidade. Por parte dos gestores do HR, ficou evidente uma falha no sistema de comunicação com a sociedade.

A matéria sobre o encontro afirma que “os vereadores concluíram a audiência com a sugestão de buscar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a situação do hospital”, o que soa inócuo e um tanto quanto apelativo, além de desgastante, uma vez que o caminho mais adequado seria ter um canal mais seguro para se obter as informações necessárias que permitam mensurar desempenho e qualidade dos serviços prestados pela unidade.

De fato, trata-se de uma unidade de saúde que atende toda a região, como o nome já diz, gerido pelo estado. Essas condições estavam dadas desde a sua fundação. Havia, para justificar o investimento municipal no prédio, um acordo sobre uma cota de atendimentos de pacientes da cidade, que sempre esteve evidenciado em demonstrativos estatísticos. Por outro lado, o HR também ajudaria a minimizar o impacto na rede de saúde local provocado por pacientes vindos de outras cidades, em busca de atendimentos de alta complexidade na Santa Casa e no HFC. Ou seja, a rede de saúde da cidade teria um ganho indireto com o HR.

O vereador Acácio Godoy (Avante) ressaltou um detalhe importante, que “o Hospital Regional tinha essa postura [de manter o município informado sobre seu desempenho e problemas] e, unilateralmente, rompeu essa relação.” Se isso é verdade, reatar essa relação é o mais importante. Parece que essa reconexão passa também pela ação dos deputados estaduais. Cássio Fala Pira, por exemplo, que é do partido de Alex de Madureira (PL), poderia muito bem se fortalecer trabalhando em sintonia com o representante local na Alesp, que tem absolutas condições de equacionar este problema de comunicação.

Mas é importante deixar claro que a dificuldade de comunicação com a direção do HR avançou na atual gestão, de Luciano Almeida. Qualquer funcionário mais antigo da saúde, que atua no setor de regulação de vagas hospitalares, sabe muito bem sobre os gráficos de desempenho da unidade em questão e, se os gráficos, que eram mensais, deixaram de fato de ser gerados e distribuídos ou não. Se isso ocorreu, sabem também com quem falar para que essa relação de transparência seja retomada imediatamente. Gestão pública sem dimensionar desempenho é uma gestão cega.

O próprio Acácio Godoy afirmou na audiência ter pedido que o Hospital Regional retome a comunicação institucional com a Câmara e que busque uma instituição independente para avaliar a opinião dos pacientes. “Esses são alguns encaminhamentos que nós estamos apresentando nesta audiência pública”, disse ele. Mas não precisa ser necessariamente com a Câmara essa relação, e sim, necessariamente, com a secretaria de Saúde, que tem obrigação de compartilhar os dados com o Legislativo local, sempre que solicitados.

Há uma preocupação dos vereadores com as reclamações dos pacientes do HR. Este é um assunto que compete à unidade de saúde resolver e deixar o poder público local a par dos gargalos existentes e o que está fazendo para melhorar o desempenho. Dando ainda condições para que esses gargalos sejam superados no plano político, com a Unicamp (gestora do HR), e com o estado. Entra aqui um trabalho conjunto do governo municipal com os deputados estaduais.

William Cirillo (foto acima), executor do convênio do HR, explicou que a ideia da unidade é cobrir lacunas necessárias para o atendimento da população com cirurgias eletivas. Disse também que houve investimento pesado do estado para equipar a unidade. Investimento que só foi possível com a construção do prédio pelo município, uma iniciativa oportuna, por se tratar de uma cidade que é polo regional.

Maurício Etchebehere (foto acima), representante do HR, disse que a ocupação atual da unidade está em torno de 80% e que, atualmente, o hospital dispõe de 104 leitos e 20 leitos de UTI, além de leitos para pré e pós-operatório. Ele também esclareceu que não existe nenhuma proibição de entrada de vereadores no hospital, mas que há limitações técnicas e sanitárias que devem ser respeitadas. “Não existe direcionamento para impedir a entrada de vereadores, mas precisamos controlar o acesso para preservar o bem-estar do paciente e seguir regras sanitárias e de sigilo médico”, explicou Etchebehere.

Em síntese, houve uma audiência pública sobre uma questão delicada, mas não se percebe, por parte dos vereadores, a clareza necessária para superar os problemas que eles mesmos apontaram. Problemas facilmente superados com diplomacia, diálogo e entendimento macro da questão. Não com CPI e estresse.

Romualdo Cruz Filho

Jornalista e, à moda antiga, leitor de livros de papel

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