Lei não controla o humor e nem dá sobrevida aos mal-humorados

Nariz de palhaço 1

É sempre motivo de riso criar lei para tentar conter a manifestação popular. A Câmara Municipal de Piracicaba exercita este expediente, pelas mãos do seu presidente, Wagnão, que não quer nada no plenário de adereço que possa representar esse tipo de manifesto-deboche, nem mesmo um inofensivo nariz de palhaço (leia aqui). A propositura tira a graça da vida. Ir ao legislativo sem a possibilidade de colocar um nariz de palhaço afronta a dignidade dos palhaços. E como eles são necessários. A câmara deveria pensar também em uma lei para preservar as pessoas com senso de humor, que estão se tornando minorias.

Nariz de palhaço 2

Lá se vão os velhos tempos, em que João Herrmann e Mugão discutiam no parlamento local o sumiço das tampas de bueiro, que estavam sendo roubadas aos montes. O humor estava sempre presente e dava a tônica da conversa. Um dizia, “este é o fator principal”. O segundo retrucava, “mas há também este aspecto a ser considerado”. Um terceiro apresentava mais um ingrediente para engrossar a discussão e se tinha um tripé. Com o passar da polêmica, o tripé já tinha ganhado tantas pernas que se tornava uma centopeia. Ficou famosa a expressão “nó de quatro pernas”, quando se queria falar de algo de solução complexa. Bons tempos em que o humor era parlamentar.

Nariz de palhaço 3

Hoje, o humor vem sendo lamentado pelos parlamentares. A cultura é outra, a relação do legislativo com a sociedade é outra. Não dá para dizer se melhor ou pior, mas dá para dizer que se vive em um ambiente excessivamente formal, árido, sem graça. Se mexer com leis já é coisa que não atrai muito, imagine em um ambiente onde não há espaço para o humor.

Nariz de palhaço 4

O leitor desses apontamentos poderá dizer, “mas Wagnão quer acabar com o deboche”. Mas o deboche nada mais é do que o humor que perdeu o freio e o freio não está em tirar a roupa do palhaço. Palhaço de verdade está sempre com uma arma extra para entregar ao seu público, que vai rir. Pensando bem, talvez Wagnão esteja desafiando a plateia, para que seja mais criativa no momento do riso. Pode ser.

Nariz de palhaço 5

O grande latinista piracicabano, Noedy Kaëmbühl, que foi vereador, nos anos 1940, dizia sempre que o ralo do esgoto é fundamental para que a sujeira não tome toda a cidade. O humor é fundamental para a vida saudável. O nariz de palhaço talvez seja fundamental para proteger os vereadores, para que o humor contra eles fique no território restrito de uma manifestação. Ele funciona como um ralo de esgoto, para que a gargalhada contra os parlamentares não tome toda a cidade.