Junho 30, 2024

O exercício oficial de dourar a pílula

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Vulnerabilidade 1

No jornalismo, há sempre uma disputa, pode-se dizer, entre o olhar da imprensa livre e do poder público. Hoje em dia, essa diferença está mais complicada de ser identificada porque há assessores de governo trabalhando na imprensa, o que deforma a função jornalística. Mas o fato é que existem esses dois olhares. O primeiro deveria estar atento à informação essencial e não se deixar levar pela propaganda oficial. O segundo é aquele que faz a propaganda oficial e tenta dar uma roupagem bonita para as ações do governo.

Vulnerabilidade 2

Por que esta observação? As informações sobre saúde, publicadas hoje por este site sobre o IGM SUS Paulista, deixam evidente esta diferença (Leia qui). Enquanto a assessoria tenta vender a ideia de que o município de Piracicaba está recebendo mais dinheiro do estado devido ao seu desempenho, modernização, ampliação de recursos humanos, e por aí afora, os jornalistas deveriam estar atentos ao fato mais difícil de encarar, que é a lógica estabelecida pelo estado para liberar o recurso, que segue critério de vulnerabilidade de cada município. Sendo assim, quanto mais recurso o município recebe, mais frágil é sua estrutura para enfrentar os problemas de saúde pública.

Vulnerabilidade 3

O raciocínio é o inverso do proposto pela assessoria oficial. Evidente que o governo tenta fazer do limão uma limonada, mas a imprensa livre tem por obrigação perceber e questionar adequadamente o problema, mesmo que isso seja doloroso para os vendedores de ilusão. E o centro nervoso de cada matéria está sempre nas entrelinhas dos releases oficiais. Esta análise não pode ser um critério subjetivo do jornalista. Deve, sim, se basear em informações oficiais, como está na matéria citada. Veja que Piracicaba recebia R$ 4 por habitante e agora vai receber R$15, podendo chegar a R$ 40,00, se atingir alguns indicadores.

Vulnerabilidade 4

De acordo com os repasses do IGM SUS Paulista, os 62 municípios do estado de São Paulo que são considerados mais socialmente vulneráveis receberão R$ 35 per capita. Já os 92 que integram a faixa seguinte, receberão R$ 30 por habitantes. Os 162 municípios da próxima faixa recebem R$ 25 por pessoas e os das duas outras faixas recebem respectivamente R$ 20 e R$ 15 por morador. Por fim, a cidade de São Paulo integra sozinha a última classificação, com R$ 4 por habitante. Esta informação é chave.

Vulnerabilidade 5

Outra notícia é sobre o número de casos de óbitos por dengue. Houve uma explosão de dengue na cidade e boa parte do recurso do IGM SUS Paulista, que alimentou os apontamentos acima, veio ao município para o combate do Aedes aegypti — como afirma o próprio coordenador da pasta na matéria –, que teve a audácia de multiplicar o número de casos da doença por 10. Isso mesmo. Piracicaba teve, até o momento, 10 vezes mais casos de dengue do que no ano passado (Leia aqui). Vulnerabilidade.

Vulnerabilidade 6

Os números de óbitos com a doença é outro ponto nervoso. Além dos 8 casos confirmados até o momento, há outros 14 em análise. Mesmo que somente uma parcela seja confirmada, temos já um triste avanço no ranking, se compararmos os últimos dois anos. Em 2023 foram 2.818 casos confirmados, frente a 25.257 deste ano, até o momento. Em 2022, foram apenas 1.360 confirmações. De um e dois óbitos nos anos anteriores, passamos para 8, com potencial para 24 até o dia 25 de junho de 2024. Assustador.

Vulnerabilidade 7

Ou seja, estamos diante de uma epidemia grave. O estado libera recursos para fazer frente a essa epidemia e o governo municipal tenta dourar a pílula. Claro que há uma parte de verdade no que o release oficial diz, uma vez que o recurso pode ser usado para a saúde como um todo. Mas não foi o critério de qualidade do sistema que justificou o repasse. Muito pelo contrário, foi o descontrole provocado, em parte, pela epidemia de dengue, o que coloca a população em situação de vulnerabilidade.

Redação

Matéria produzida pela equipe do site Viletim.com.br

1 thought on “O exercício oficial de dourar a pílula

  1. Sim… tudo são tendências, as próprias matérias midiaticas que acessamos induzem-nos a termos, muitas vezes, percepção distorcida dos fatos.
    A imprensa é livre sim… mas é preciso saber que essa liberdade é dúbia pois quando um administrativo governamental tece teias que viabilizam a desinformação nos aparelhos midiaticos há de se pensar o quanto vale a pena crer nas informações veiculadas através da liberdade.

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