A arte como refém da boçalidade
A nova pinacoteca foi uma vitória da coerência, apesar de ter sido motivada por uma briga incoerente
DA SÉRIE RETROSPETIVA 2024
Somente em maio deste ano o governo municipal conseguiu apaziguar a forte tensão causada pelo fechamento da antiga pinacoteca Miguel Archanjo Benício D’ Assunção Dutra. O que foi possível com a inauguração do novo espaço oficial para as artes plásticas em Piracicaba, no Armazém 14A do Parque do Engenho Central.
Foram investidos R$ 1,56 milhão para deixar o novo espaço adequado. Só que desta vez, a festa de inauguração foi com duas exposições mais leves: a abertura do 7º Salão de Aquarelas de Piracicaba (SAP), além de uma mostra paralela com obras da pintora naïf Carmela Pereira.
A antiga pinacoteca havia sido inaugurada com uma exposição de arte moderna. Sim. Mas ela nasceu com a Intenção de ser território das artes clássicas, sob o comando de Archimedes Dutra e toda uma tradição figurativista. Mas, foi aberta sob o comando do genial Ermelindo Nardin, um desbravador de linguagens abstratas e provocativas. Tempo de briga boa, porque estava no campo da estética, da representação. Eram dois mundos praticamente antagônicos se encontrando, mas no plano filosófico.
A nova pinacoteca foi inaugurada com uma visão bem mais desidratada de arte. Não que os nobres aquarelistas e a grande Carmela tenham algo a ver com isso. É que durante o fechamento da sede anterior e a abertura da nova, a arte foi ideologizada de forma pueril tanto pelo governo local como pelos seus críticos e redundou em um debate sobre o esvaziamento de um lugar que já estava vazio. Chovendo no molhado.
Tensão, foi a tônica do enfrentamento. Ação e reação entre pessoas mais interessadas em se fortalecer politicamente do que compreender o momento. Mais a fim de marcar território do que dialogar. Mais a fim de mostrar defeitos do que qualidade. Um movimento artístico às avessas. Por isso fica ruim até citar nomes.
Mesmo assim, Luciano Almeida conseguiu perder a briga para os seus críticos, não pelo seu propósito, mas por ser um birrento e de difícil diálogo. Não precisa desenhar essa lógica, né? A nova pinacoteca, no entanto, ganhou de fato um espaço novo e muito melhor para exposições e o desenvolvimento de atividades correlatas. A cidade ganhou a briga e os briguentos se foram pelo sumidouro do espelho. Ao mestre Aldir Blanc