O túmulo de Prudente serve como exemplo?
Trevisan mostrou imagens do túmulo com os vasos de bronze soltos e placas e letras faltando
Pode ser até natural que o crescimento acelerado de uma cidade acabe esmorecendo com sua tradição, uma vez que o desenvolvimento social nem sempre está relacionado à compreensão de uma cultura.
A dinâmica do cotidiano tem força suficiente para pulverizar a memória e tornar as pessoas desorientadas e insensíveis ao que se passa ao seu redor. Especialmente quando não se conhece o arredor.
Quando o vínculo ao passado se perde, perde-se a autorreferência e o ímpeto para defender o que há de importante na própria vida, na vida dos antepassados, na história da sociedade. Tudo fica pelo interesse imediato. A sobrevivência.
Por isso, preservar o passado deveria ser uma função a ser pensada como política pública, que deve ser feita por obrigação, enquanto o nível cultural da sociedade não alcança a importância dos seus próprios valores pretéritos.
Preservar, em certa medida, seria uma obrigação, para que os homens desatentos não percam suas raízes e depois lamentem a falta de sensibilidade consigo mesmos.
Piracicaba está em uma fase propensa para perder seus poucos referenciais históricos existentes. Uma exceção nesse cenário é a sede da Società Italiana di Mutuo Soccorso, que deve renascer como uma ave mitológica.
Não é à toa que um grito como o do vereador Laércio Trevisan (PL), clamando por cuidados em relação ao túmulo de Prudente de Morais, no Cemitério da Saudade, soa estranho e atemporal.
Ele solicitou que a atual gestão municipal dê atenção ao cemitério. Segundo ele, a sepultura do primeiro presidente civil do país foi violada, vilipendiada e encontra-se em estado de abandono.
Trevisan mostrou imagens do túmulo com os vasos de bronze soltos e placas e letras faltando. Tudo para ladrão levar e vender a preço de droga. Uma história agredida e pouca gente para perceber o que isso significa, porque estamos sem referências.
Não adianta mais dizer quem foi Prudente de Morais. Isso não muda nada. Para a maioria dos piracicabanos, talvez seja coisa do passado, que já passou e perdeu o valor. E não é apenas o caso de Prudente, mas de tantos outros.
Uma política pública, por mecânica que seja, por automática que se seja, poderia salvar algumas marcas importantes sobre a nossa história. O atual prefeito poderia ter esse olhar para o patrimônio histórico da cidade.
Não é para conselho algum tombar ou destombar. É para cuidar do que existe e tem valor, pura e simplesmente.