Paes e a Frente ampla pela Rua do Porto
Muito do que se diz já era para ter sido feito pelos vereadores; mas que se dê uma chance à iniciativa do nobre vereador
O vereador recém-eleito, Renan Leandro Paes (PL) protocolou, logo no primeiro mês do seu mandato, o Projeto de Decreto Legislativo 2/2025 com a nobre intenção de criar uma “Frente Parlamentar em Defesa e Valorização da Rua do Porto”, que estaria “comprometida com a defesa dos moradores e comerciantes da Rua do Porto e adjacências”. Alguém discorda da ideia?
Ele elenca uma série de objetivos da iniciativa, sendo que todas elas podem ser da incumbência de qualquer parlamentar, independentemente da existência da frente, tais como acompanhar políticas públicas para a região, debater leis e projetos, realizar reuniões e eventos, etc. Mas não vamos aqui provocar nesse sentido, uma vez que há boa-fé na ação, desde que não fique apenas na conversa.
A Rua do Porto faz parte de um complexo gastronômico e de lazer, que envolve toda a orla do rio, o Parque João Herrmann Neto, o Engenho Central, o Parque do Mirante, uma área que vai do Parque dos Trabalhadores até a calçada da travessa Renato Wagner, por enquanto. Inclui inclusive a famigerada Fábrica Boyes, que ganhou espaço nas discussões políticas com a proposta de empreendimento turístico no local.
Tudo isso precisa estar integrado às preocupações da frente ampla, para não haver fragmentação, uma vez que o turista chega ansioso para ver o Museu da Água, o salto da Ponte Pênsil, o Aquário, no Mirante, os espaços do Engenho, e desemboca na praça gastronômica do Calçadão da Rua do Porto, após passear pelo parque, onde fica o Recanto dos Pássaros. Enquanto a moçada do futebol e do skate tem o Parque dos Trabalhadores para se divertir.
De todo esse complexo, o Mirante é hoje o mais prejudicado, porque foi largado ao abandono. E deveria ser a cereja nesse bolo, pela sua proximidade com a parte mais cobiçada pelos turistas: a visão privilegiada do salto. Quem é do tempo do Paulinho e da Adeli Bachi na secretaria de Turismo lembra os tempos agradáveis do Mirante, em que a turma endinheirada se reunia no restaurante que tinha o nome do local para comer pintado a preço de ouro.
Os turistas comuns visitavam a feira de artesanato, consumiam sorvete gigante ou sacolé (também conhecido como chupa-chupa), comiam pipoca e tinham acesso à parte mágica do rio, bem de pertinho. Na época da cheia, como agora, ver o salto do nível mais baixo do Mirante era de saltar os olhos, com a possibilidade de pegar peixes enormes com a mão. Mas já era proibida a pesca na piracema, apesar dos abusos.
A manutenção da estrutura não era lá grandes coisas, mas tudo funcionava. Hoje, o Parque do Mirante está deteriorado e se tornou um local inseguro. O turista que se arrisca a passear por lá é o mesmo que visita os restaurantes da Rua do Porto. Voltando à Rua do Porto, toda a avenida Beira Rio e o Calçadão estão sempre imundos depois de cada noite de movimentação do setor gastronômico, com a ajuda dos turistas. É papel, papelão, plástico, copos descartáveis, canudinhos, latinhas, etc., jogados na sarjeta, calçada e gramados. Falta uma política específica para isso, porque boa parte desse lixo, com a chuva, vai embelezar o rio Piracicaba e sua já ínfima mata ciliar. Assim, a região turística mais importante da cidade está cada vez mais vergonhosa, além do mato, que já começa a fazer praça.
Em relação ao trânsito, é uma questão cultural. As pessoas não andam mais para chegar até lá. Se houvesse um Cristo Redentor na beira do rio, os carros seriam estacionados ao entorno da imagem sagrada. O desconfiômetro é impressionante. No entanto, está evidente a necessidade de organizar melhor os bolsões e todas as vagas das proximidades.
Por um simples passeio, com recortes, das observações de um modesto frequentador do local, dá para sentir que a frente parlamentar tem muito o que fazer. Mas há muito nessa história que os vereadores já deviam ter feito. Que a iniciativa de Paes não seja mais uma daquelas pensadas para dar foto e textinhos vazios nas redes sociais. É preciso sair da conversa e ir para a prática. É evidente que estamos tratando desse cenário, considerando o respeito aos moradores, já integrados à dinâmica do local. Há pouca coisa a se discutir e muita coisa para se fazer. Sem o Executivo nessa frente, teremos muito para lamentar. Ou melhor, para continuar lamentando.