Pequena História do Desenho de Humor em Piracicaba (03)
A revista “Mirante” e os cartuns pioneiros de Renato Wagner e Derli Barroso
Cartum de Renato Wagner, no número 01 da revista “Mirante”
Antes de ler este capítulo 3, se não leu ainda os outros capítulos desta “Pequena História do Desenho de Humor”, acesse-os clicando nos links abaixo:
Capítulo 1: Os primeiros artistas gráficos da Terra do Humor
Capítulo 2: A história do Nhô Quim, mascote do XV de Novembro de Piracicaba, seu criador Edson Rontani, e as versões de outros artistas ao longo dos anos
O Brasil em 1957: estamos em uma época otimista no Brasil, em plena vigência dos Cinquenta anos em Cinco do presidente Juscelino Kubitschek, a construção da nova capital federal, Brasília, instalação de montadoras de automóveis, como a Volkswagen e novo impulso econômico.
A Bossa Nova está sendo criada por João Gilberto. Dois anos depois ela surge “oficialmente”, com o lançamento das músicas compostas por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, “Desafinado”, em janeiro, e “Chega de Saudade”, em março, interpretadas por João Gilberto.
Uma nova prosperidade, principalmente para a classe média, com a estabilidade política e econômica trazida por JK, faz essa época ser lembrada como os “Anos Dourados”, no Brasil.
No mundo, a Guerra Fria entre EUA e URSS comia solta. O primeiro passo da Corrida Espacial foi dado pelos soviéticos, em outubro de 1957, com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputinik. E no mês seguinte, outro Sputinik levava a cadela Laika para a órbita terrestre.
Piracicaba também estava nesta onda de otimismo. Um dos sintomas foi a criação de uma revista nos moldes da maior revista da época, “O Cruzeiro”.
A maior revista do Brasil tinha muitos cartuns. A publicação mais vendida do país, nesta época, era a revista semanal O Cruzeiro, do grupo “Diários Associados”, do empresário Assis Chateaubriand. A tiragem média da revista, em 1957, era de 600 mil exemplares por semana.
Capa da revista “O Cruzeiro”, de março de 1957.
O conteúdo publicado tinha mais relação com o de uma “revista de variedades”, vista com os olhos de hoje, do que o de uma publicação de notícias. O noticiário do dia era muito bem coberto pelos jornais, pelo rádio e, em ascensão, a televisão – que tinha sido trazida para o Brasil por Chateaubriand, em 1950, com a TV Tupi de São Paulo.
A revista “O Cruzeiro” tinha um espaço enorme para ilustradores e cartunistas. A seção de humor, “Pif-Paf”, feita inteiramente por Millôr Fernandes, com o pseudônimo de Vão Gôgo, tinha como lema “Cada número é exemplar. Cada exemplar é um número”.
A seção “Pif-Paf” de Millôr Fernandes, na revista “O Cruzeiro”, de março de 1957.
A revista também trazia semanalmente o popularíssimo cartum do “Amigo da Onça”, de Péricles, além de cartuns de Carlos Estevão (que anos depois, assumiu o “Amigo da Onça”), de Borjalo (que já abordava temas ecológicos na década de 1950), e de artistas estrangeiros espalhados pela publicação.
“O Amigo da Onça”, de Péricles, na edição de “O Cruzeiro” de 30/03/1957.
Fazia muito sucesso também a seção do ilustrador Alceu Penna, as “Garotas do Alceu”, desenhos de jovens mulheres bonitas, vestidas na última moda, acompanhados de textos humorísticos. Veja só: