Pinacoteca, como de fato foi
Quem conhecia de fato a realidade do prédio da antiga pinacoteca, idealizada pelo arquiteto Walter Naime, sabia que sua estrutura precisava de uma reforma geral e profunda
A mudança da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra para o Armazém 14A do Engenho Central foi uma iniciativa ousada do prefeito Luciano Almeida e muito bem-sucedida, apesar dos pesares. Porque foi também uma das iniciativas mais questionadas de sua gestão e que fez muito barulho junto aos artistas plásticos da cidade. Qual foi o motivo de tamanho alvoroço e desgaste? O estilo Luciano Almeida de fazer política.
Quem conhecia de fato a realidade do prédio da antiga pinacoteca, idealizada pelo arquiteto Walter Naime, sabia que sua estrutura precisava de uma reforma geral e profunda para proteger com segurança o rico acervo de arte que ela possuía. As infiltrações nas paredes e lajes pareciam insolúveis e o patrimônio artístico estava sempre correndo perigo. Ela não era mais capaz de cumprir a função para a qual foi criada.
O arquiteto João Chaddad havia afirmado que a tecnologia utilizada para sua construção era defasada e precisava urgentemente de atualização. A ex-secretária da Ação Cultural, Rosângela Camolese, chegou a fazer várias correções pontuais na unidade, mas não foram suficientes para dar segurança ao local.
Nunca se falou qual seria o valor para uma reforma adequada da Pinacoteca. Não deveria ser coisa barata. Tanto é que o prédio ficou fechado durante anos antes da Rosângela reabrir o espaço. Luciano Almeida, por sua vez, definiu resolver o problema de outra maneira e autorizou a reforma do Armazém 14A para receber o acervo de arte em questão e preparou o novo local com infraestrutura para funcionar como uma Pinacoteca de fato.
Só que Luciano Almeida não fez uma boa política junto aos artistas, resolveu colocar o acervo da Pinacoteca do dia para a noite em um local de transição, no próprio Engenho Central, e fechou a antiga Pinacoteca de forma abrupta. Essas ações desastradas foram os fatores de descontentamento junto à classe artística, porque o prefeito simplesmente ignorou a história do prédio, que foi construído para uma finalidade específica após anos e anos de muita luta.
Talvez um pouco mais de jogo de cintura e clareza de propósito no diálogo com o público em questão e tudo teria se resolvido sem tanta gritaria. A obra da nova Pinacoteca demorou pelo menos duas vezes mais do que o tempo planejado. Mas ela está aí, firme e forte, dando conta do recado e cumprindo, sim, o papel complementar de dar mais vida ao Engenho Central. O estilo de Luciano Almeida de tomar decisões, porém, foi muito desagradável e, com a disputa pela Pinacoteca, ele deve ter perdido muitos defensores do seu governo.
Esta memória rápida e superficial é só para recordar uma das razões de Luciano Almeida ter perdido de forma tão humilhante a última eleição para prefeito, em que tentou se reeleger. Ele queimou-se junto a um dos setores artísticos da cidade com muita tradição, tudo pelo seu jeito canhestro de fazer política. Como nesta quarta-feira (4) ele fará um balanço do seu governo, a Pinacoteca virá como uma conquista para a cidade, o que de fato foi. Mas uma derrota para o próprio prefeito, como de fato foi.