Sobre ingerência ou "do palanque à dura realidade da gestão pública"
Uma leitura sobre a relação do Executivo como o Legislativo em Piracicaba
Base unida
O vereador André Bandeira (PSDB) conta que nos dois primeiros anos do governo Luciano Almeida (PP) houve um recorde de rejeição de requerimentos com pedidos de informações do Legislativo ao Executivo. A base do governo na Câmara atuava unida para derrubar as solicitações e essa se tornou uma estratégia para proteger o chefe, não dando transparência às informações sobre a gestão pública.
Base frágil
Depois que os requerimentos começaram a ser aprovados em maior número, com a base do governo já enfraquecida, o Executivo encontrou outro mecanismo para obstruir o trabalho do Legislativo, respondendo os pedidos de última hora e de qualquer jeito, sem se ater ao conteúdo solicitado e somente para cumprir o prazo regimental.
C* e andando
Outro truque usado pelo Executivo era tentar desqualificar o requerimento, depois que a base desandou completamente, foi tentando desqualificar os requerimentos, afirmando se tratar de ‘matéria de indicação’, o que não fazia o menor sentido. Além de que, uma vez o requerimento aprovado em plenário, não cabe ao Executivo questioná-lo e, sim, apenas respondê-lo. “Isso era uma forma clara de ingerência no trabalho da Câmara”, explica André Bandeira.
MP contra LA
André Bandeira disse, inclusive, que vai entrar com uma representação junto ao Ministério Público (MP) apontando toda essa realidade e a ingerência do atual governo no trabalho de fiscalização dos vereadores, que se tornou um moto-contínuo. Segundo ele, a representação está devidamente documentada e fica mais do que evidente essa postura obstrutiva de Luciano Almeida para dificultar a ação dos edis.
Novo governo
Mesmo Barjas Negri (PSDB), que se dizia bom articulador político e com trânsito qualificado entre os vereadores, perdeu muito espaço no Legislativo local em seu último governo. Tanto é que essa foi uma das falhas que o levou à derrota para Luciano Almeida (PP). Helinho Zanatta (PSD) pode começar com sinal verde no parlamento, mas essa desenvoltura exigirá muita saliva para se manter influente. Não há presidente de mesa diretora que consiga contornar a situação quando o desgaste na relação começa a aparecer.
Novo governo 2
Durante uma campanha política se promete de tudo. As alianças se fortalecem nos palanques a partir de propostas ousadas, que parecem unificar os interesses. Só que, como diz o ‘velho e cansado’ Evaldo Vicente, parafraseando Brizola, ‘trene é trene, jogo é jogo’. E as desavenças começam logo na composição do governo, porque não dá para alegrar a todos. Mesmo assim, há o voto de confiança, que precisa ser usado pelo governo com grandeza. Isso significa transparência e diálogo. Quando as informações começam a ser controladas, ou seja, deixam de circular livremente, a desconfiança se instala, acaba a brincadeira. Aí se revelam os jogadores.
Nomes de ruas
Há quem aposte na tese de que nos próximos quatro anos Piracicaba terá uma proliferação de nomes de rua em homenagem a pastores das igrejas pentecostais. O pessoal que faz essa leitura crítica considera tais denominações, se elas ocorrerem, um termômetro dos novos tempos parlamentares. Ou seja, um termômetro para medir o grau de ‘fervor democrático’ dos novos e velhos integrantes que compõem a Casa de Leis para a próxima gestão, habilitados também para a vida pastoral.
Esta bíblia é a minha
Em uma Câmara Municipal mais evangelizada, espera-se que os vereadores da base sigam com mais fidelidade os mandamentos bíblicos e a linha de comando. No entanto, na política, cada um tem a sua Bíblia.
Vida dura
Os vereadores da Câmara Municipal de Piracicaba entram em recesso parlamentar a partir da sessão de hoje (12). Normalmente trabalham duro neste período do ano para dar conta de todas as pendências do poder Executivo, realizando inclusive o que se convencionou chamar de ‘limpa pauta’. Mas a reunião de hoje será relativamente soft. Depois, eles voltam no dia 1 de janeiro para a eleição da mesa-diretora e desaparecem novamente, retornando apenas em fevereiro. Ah, tem, sim, aquela turma que aproveita o recesso para desenvolver atividades diversas. Mas o noticiário político sobre o Legislativo local fica esvaziado até fevereiro. Vida dura.