Maio 13, 2024

Dois fatos políticos ocorridos na sexta-feira, 2, demonstram o estado de espírito dos petistas e de seus aliados em relação às próximas eleições (para prefeito e presidente da república), que certamente será movido pelo rancor e com tentativas de golpes rasteiros e humilhantes em seus adversários.
Durante a cerimônia de aniversário dos 132 anos do Porto de Santos, momento em que o presidente da República e o governador de São Paulo anunciaram parceria para a construção de uma via seca que ligará Santos ao Guarujá, Lula aproveitou a oportunidade para agredir Tarcísio de Freitas.
Depois que o governador discursou e foi vaiado pelos presentes, em sua maioria militantes de esquerda, foi a vez de Lula falar, sob aplausos, claro. Primeiramente, “o Deus Sol” tentou defender Tarcísio da vaia e disse que era preciso recuperar a normalidade na política e aprender a conviver com as diferenças de ideias e posições de adversários. Supondo que ele próprio já tivesse aprendido e estava ali para dar lições morais. No entanto, logo em seguida, começou a humilhar exatamente seu maior adversário político do momento, o governador do estado, seu anfitrião.
Lula lembrou que Tarcísio trabalhou ao lado do PT, durante o governo Dilma, quando foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, deixando a entender que foi seu partido que o projetou na política. “Mas depois ele debandou para o lado de Bolsonaro”. Lula se esqueceu de dizer que Tarcísio na época era funcionário público de carreira do setor de desenvolvimento urbano, o que se tornou um técnico hábil para a função a ponto de chamar a atenção do governo federal pela sua competência. E que nunca foi filiado ao PT.
Lula procurou criou assim um ambiente avesso a Tarcísio na tentativa de tentar humilhá-lo, indo na contramão dos ensinamentos morais que se propunha a oferecer há segundos atrás. Desapareceu o professor e ressurgiu o lobo político que sempre foi. Tarcísio, por sua vez, manteve-se sorridente e cordado, afirmando categoricamente que, em projetos de interesse da sociedade trabalharia em parceria com o governo federal, sem que isso signifique submissão ou alinhamento político, mas pragmatismo.
Analistas políticos mais do que rapidamente correram para apontar erro estratégico do governador ao receber o presidente em seu território eleitoral, abrindo espaço para o jogo político do PT, que é de enfraquecer Tarcísio, potencial candidato a presente da república caso Jair Bolsonaro se mantenha inelegível. O evento, segundo esses analistas, favoreceu Lula. No meu entendimento, o evento serviu apenas para enfatizar a face mórbida do lulismo, que sempre foi assim mesmo: de achacar qualquer potencial candidato que possa ofuscar o “Deus Sol”.
Outro fato similar e humilhante se deu durante o evento de retorno de quem nunca se foi: a repatriação de Marta Suplicy ao PT. Guilherme Boulos, comunista do PSOL, que é pré-candidato à prefeitura de São Paulo, tendo a ex-prefeita como vice, disse que o momento era de se criar uma ampla frente democrática em São Paulo para a superação dos problemas sociais na capital. Frente ampla, de esquerda, só pode ser. Ele aproveitou para dizer que, pelo que ele viu em Santos, até Tarcísio de Freitas faria parte dessa frente ampla. Lula já está envelhecido e não tem mais cura. Sua língua não tem tramela. Mas Boulos já nasce politicamente doente ao ter esse mesmo tipo de insight, que tenta humilhar grande parcela do eleitorado do estado que jamais votaria na esquerda e teria o atual governador como um antídoto à desfaçatez da esquerda.
Novamente, o PT tenta quebrar a resistência dos paulistas à esquerda com golpes que afrontam a inteligência dos paulistas e os coloca ainda mais avessos à esquerda. Pelo meu entendimento, novamente, ambas as atitudes, tanto de Lula como de Boulos, jogam contra o PT, que insiste em deixar evidente sua marca ladina, de afrontar a inteligência alheia achando que está fazendo um jogo político genial. Evidente que somente o tempo vai dizer a verdade, ou nem ele. A máquina petista, com apoio dos cofres federais, pode sim trazer a esquerda de volta ao governo da capital, não há dúvida, apesar de seus adversários temerem essa possibilidade. Acima de tudo, cenas como estas de Santos e da repatriação de Marta ao PT diminuem cada dia mais as esperanças de que um dia a esquerda nacional possa voltar à civilidade e o país voltar à normalidade política.

Romualdo Cruz Filho

Jornalista e, à moda antiga, leitor de livros de papel

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