Maio 12, 2024

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O verão veio a todo vapor, e, com ele, a liberdade dos corpos semivestidos e dispostos a se aventurar nas paixões instantâneas e intensas disponíveis na terra e nas nuvens. Há quem não goste das sensações provocadas pelo calor. Essa coisa de se animar com os finais de tarde ensolarados, com o nascer do dia quando ainda é madrugada, com os eventos em espaços abertos regados a cerveja gelada, com a nudez exuberante explícita nas ruas, as piscinas lotadas e as noites quentes não é para qualquer um. Mesmo assim ela enfrentou o sol e foi parar no meio da multidão e da chuva de confetes e serpentinas. A sensação foi de desconforto. Aos poucos, o batuque foi criando intensidade e o não pertencimento deslocado foi sendo substituído pela curiosidade. O corpo foi obedecendo ao samba e tomou conta da sua alma. Percebeu que estava sendo observada e retribuiu o olhar. A distância estava agora ao alcance das mãos e foi impossível resistir ao primeiro toque. Os corpos se uniram e as palavras eram desnecessárias na dança molhada pelo suor. A bateria continuava frenética, dando o tom ao match não virtual. O remelexo era cada vez mais intenso e conjunto, com bocas coladas e mãos passeando livremente pelo corpo alheio. O verão já não incomodava. Seguiram grudados até o último batuque, quando as capivaras, as emas e os grandes bonecos se despediram da multidão. Eles também se despediram, com a promessa de nova entrega no Carnaval que nasce no horizonte.

Clara Lee

Clara Lee é escritora. Colaborou com o jornal "A Noite" na década de 1990, "Viletim" edição impressa década de 2000, ambos de Piracicaba/SP.

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