Maio 11, 2024

Todos estavam animados com a festa. O mais novo marido e mulher apontou na entrada do salão e todos os flashes se acenderam para registrar o momento. Os noivos se posicionaram em frente à mesa do bolo para receberem os cumprimentos. A música começou, as luzes cintilavam. A coreografada dança nupcial anunciava que a noite seria perfeita. Os cônjuges, inebriados pelo amor, deslizavam no meio do salão. Ao final da apresentação, aproximou-se deles a irmã do noivo, acompanhada por uma amiga desconhecida do casal. Janaína se apresentou, pedindo que a chamassem de Jana e desejando muitas felicidades aos nubentes. João sentiu tremor. Joana sentiu um arrepio quente na espinha. Ambos tentaram abstrair esse fato, e retomaram os protocolos nupciais. Com o canto dos olhos, João seguia Jana pelo salão. Joana acompanhava cada passo da convidada de sua cunhada discretamente, atraída por aquela figura magnética. A família ocupou a mesa principal, e Jana tomou assento em frente aos noivos. O casal estremeceu. João orbitava diante da imagem daquela bela mulher e Joana não conseguia esconder o entusiasmo durante o diálogo travado com Jana. Por sob a mesa tocaram-se os pés. A sandália dourada encontrou os sapatos lustrosos e a condescendência foi confirmada pela troca de intenso olhar. Discretamente, João despiu seus pés e pôde sentir o salto alto roçando sua tez. Com secreta ousadia, Jana alcançou o sapato branco da noiva, lançando-lhe brilhantes chamas através das pupilas dilatadas. Joana encarou firme os olhos fulminantes e retribuiu com um cúmplice sorriso saliente. Os três pés dançavam agora por debaixo da longa toalha de renda. Seguiu-se o jantar. O trio entrelaçado não levantou da mesa, envoltos e inebriados com a intensidade dos sentimentos que tomava conta de suas emoções. Cada átomo de seus corpos retribuía aos movimentos imperceptíveis a todos ao redor. O tom da música convidava para a pista de dança e os convidados se levantaram para dançar. Exceto João, Joana e Jana. Em animada conversa, os três brindaram o encontro inesperado. O momento da partida dos noivos se aproximava, e os pés se despediram suados e querendo mais. A noiva jogou o buquê, os amigos cortaram a gravata do noivo e a fumaça invadiu o recinto, anunciando o início da lua-de-mel. O carro enfeitado os esperava com as portas abertas. Entrou primeiro o noivo, para depois ajudarem a noiva a entrar com o vestido bufante. Jana acenou do lado de fora da janela. Joana abriu o vidro e gesticulou para a nova amiga.

– Ei, preciso de auxílio para me livrar dessa roupa e desfazer meu penteado… gostaria de me ajudar com isso?

A resposta veio silenciosa. A porta do carro foi aberta e o banco da frente foi ocupado. Três corações pulsavam descompassados. O motorista parou em frente ao hotel, onde a suíte nupcial os aguardava. Dentro do quarto, a sós pela primeira vez, os três ocuparam a cama vestidos de pele. No café da manhã sentaram-se à mesa, João e suas duas esposas, um trisal inusitado, pronto para encarar a nova vida e perpetuar o prazer daquela noite.

Clara Lee

Clara Lee é escritora. Colaborou com o jornal "A Noite" na década de 1990, "Viletim" edição impressa década de 2000, ambos de Piracicaba/SP.

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