Maio 7, 2024

Uma nova fronteira para o absurdo?

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Penso eu que é mais uma trapaça que aumenta a temperatura do ambiente, distorcendo os discursos e o foco de uma campanha eleitoral saudável, independente das consequências de uma ação dessa natureza

As pesquisas divulgadas ontem com o ranking dos candidatos a prefeito de Piracicaba não preocupam tanto pelo grau de imprecisão que apresentam, mas por revelar a intensidade acima da média das campanhas eleitorais anteriores, mesmo estando em seus momentos iniciais. Como se os candidatos estivessem se antecipando a algo que pode explodir em qualquer instante e mudar radicalmente a dinâmica do jogo.

Um amigo, especializado em campanhas eleitorais, me disse que o processo eleitoral deste ano em Piracicaba será sangrento. Claro que a expressão é forte em demasia e ele não pensava como Shakespeare, apesar do ar um tanto quanto denso da noiva da Colina. Não se espera, evidentemente, nada trágico, no sentido essencial da palavra. Mas o confronto entre os candidatos tende sim a certos extremismos que chega inclusive a ofender a inteligência do eleitorado.

Vejamos, por exemplo, a pesquisa divulgada pelo PT que, da forma como foi apresentada ao público pelo partido, coloca a Professora Bebel em segundo lugar, “com 19% das intensões de voto”. Mas no desenrolar da matéria oficial afirma que ela está de fato com 15%. Só que, devido à margem de erro de 4% ela poderia chegar a 19%, por isso a segunda posição. Esta seria uma informação evidente, uma vez que a margem de erro é de 4%. Mas logo atrás dela aparece na mesma pesquisa o nome de Alex de Madureira (PL), com 15% das intenções de voto.

A pergunta óbvia é: que sentido faz o partido (PT) acrescentar os 4% da margem de erro apenas quando se trata de dimensionar o potencial eleitorado de Bebel? E os demais? Por esse caminho de manipulação, Madureira, que também aparece com 15% das intensões de voto, na mesma pesquisa em questão, também teria que receber seus 4% e alcançaria os mesmos 19% Poderíamos ler tranquilamente a questão sobre a margem de erro no sentido contrário. Aí Bebel teria 11% dos votos (15-4) e Madureira 19% (15+4) e vice-versa. As possibilidades de brincar com os números aqui são muitas. Tanto Paulo Campos (9%) e Helinho Zanatta (8%), a depender do malabarismo numérico, poderiam estar empatados com a petista. É só tirar de um e acrescentar no outro a mesma margem de erro, que não é um número absoluto. Claro que isso tudo é bobagem.

Outro elemento que entra no cálculo dos candidatos é a participação ou não de Barjas Negri (PSDB) no pleito a partir do momento em que seu nome seja homologado em convenção partidária. Inegavelmente o tucano lidera em todas as pesquisas e com ampla vantagem. Mas está no ar a possibilidade um dos seus adversários entrar com recurso na Justiça para que ele seja considerado inelegível. Penso eu que é mais uma trapaça que aumenta a temperatura do ambiente, distorcendo os discursos e o foco de uma campanha eleitoral saudável, independente das consequências de uma ação dessa natureza.

Como tenho enfatizado, quanto mais honesto e transparente for o jogo e cada candidato se revelar em sua grandeza, melhor para o processo eleitoral e melhor para a cidade. O eleitor, evidentemente, quer ver um programa de governo que apresente padrão de alto nível, com propostas eficazes para o enfrentamento dos problemas sociais, e não ter que fazer sua escolha com base em artimanhas e baixarias que somente desestabilizam o debate e ampliam as desconfianças. Os candidatos precisam mostrar talento e habilidade para governar a cidade, não mais que isso. Se no nível nacional se discute a polarização entre extremos, o que é deprimente, Piracicaba poderia muito bem dar um exemplo de como sair desse ambiente tóxico, mas sem estabelecer uma nova fronteira para o absurdo.

Romualdo Cruz Filho

Jornalista e, à moda antiga, leitor de livros de papel

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