Maio 11, 2024
Assim que a porta do elevador se abriu, fui surpreendida por uma figura desconhecida. O sorriso largo do novo porteiro do prédio imediatamente me atraiu, enquanto ele oferecia ajuda com o carrinho de compras. O que teria acontecido com o Senhor Valdemar, funcionário antigo e já tão habituado com os costumes dos moradores? O prestativo jovem estacionava o carrinho enquanto as dúvidas pairavam na minha mente. Eu me chamo Francisco, ao seu dispor. A voz do rapaz era firme e segura. Os gestos cordiais denunciavam uma servilidade nata, pronta para oferecer seus préstimos ao mundo. Agradeci e voltei ao 12° andar, onde as compras aguardavam para serem colocadas nos armários da dispensa. Naquela noite, o desenho daquele sorriso, emoldurado por uma pele morena e bem hidratada, acompanhou meus pensamentos e encorajou meus dedos a explorarem o calor molhado e crescente entre minhas coxas, até que o sono tomasse conta do meu corpo e acalmasse meu devaneio. No dia seguinte parei no térreo de novo. Fui recebida pelo mesmo amplo sorriso, ainda mais reluzente, repleto de subserviência. Posso ajudar em alguma coisa, dona Mariana? Respondi que não, obrigada, e pedi que me chamasse apenas pelo nome, dando início a um assunto qualquer. Descobri que Chico tinha acabado de completar 22 anos, 12 anos a menos que eu. Esse era o seu primeiro emprego com carteira assinada e o salário iria lhe ajudar a pagar a moto recém-comprada. Desejei boa sorte, boas vindas, e subi para meu apartamento. Sonhei com aquele rosto bem perto do meu. Acordei sentindo um cheiro doce e meu corpo ainda excitado. Há tempos eu não era invadida por esse desejo. Soube que o jovem trabalhava das nove da noite até às seis da manhã, e, portanto, eu precisaria passar o dia aguardando o início do expediente. Às nove e meia tomei o elevador. Boa noite, Chico, tudo bem? Tomei assento em frente a portaria e falei que estava com dificuldades para dormir – precisava conversar e o antigo porteiro sempre me fazia companhia nessas horas. A conversa tomou forma e o tempo passou apressado. Já era madrugada quando subi, longe de ser dominada pelo sono. Imaginei Chico entrando no meu quarto e explorando meu corpo. Deixei minhas mãos livres transitarem dentro de mim até o clímax do desejo ir se dissipando, dando lugar ao cansaço morno que se sucede ao prazer. Na noite seguinte fui de novo ao saguão do prédio. Já era tarde e ninguém mais transitava por ali. Dessa vez usei um roupão e deixei à mostra a renda do meu baby-doll. Conversamos, demos risada e trocamos WhatsApp – a proximidade adquirida aumentava a intimidade desejada. Mandei bom dia na manhã seguinte, e a resposta foi com emojis de flores e piscadinhas sutis. À noite eu estava lá. O roupão denunciava minha pele nua e disponível. A conversa aconteceu solta e a distância de nossos corpos era apenas de alguns centímetros. Minhas coxas estavam propositalmente aparecendo pela fenda do roupão, cobrindo apenas parte do caminho em direção ao meu desejo pulsante. Então fui tocada. Os longos dedos encostaram delicadamente no meu rosto para afastar uma mecha de cabelo, e uma enxurrada de palavras estimulantes imediatamente invadiu os meus ouvidos. Estremeci. O assunto rapidamente passou a ser sobre as experiências amorosas já vividas e, apesar da pouca idade, Francisco demonstrou ser um verdadeiro achado para satisfazer minhas vontades. Ele falou sobre uma moça com quem aprendera a desfrutar o prazer de oferecer prazer, tendo como retribuição imensurável contentamento. Deu detalhes do que podia fazer com a boca, com os dedos e com os movimentos. Alimentei a conversa discorrendo sobre as minhas mais variadas e ousadas vivências, incendiando assim as insinuosas trocas de olhar que disparávamos um para o outro. O relógio marcou o final da jornada de trabalho. A noite passou depressa e o sol já brilhava trazendo o torpor de mais um dia de verão. No caminho para o décimo segundo andar, o elevador foi testemunha do encontro ardente e intenso que não conseguiu esperar a porta se abrir para ser consumado.
Clara Lee

Clara Lee é escritora. Colaborou com o jornal "A Noite" na década de 1990, "Viletim" edição impressa década de 2000, ambos de Piracicaba/SP.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Follow by Email
YouTube
YouTube
LinkedIn
Share
Instagram
WhatsApp
Tiktok