Maio 12, 2024

Ludimila estava na segunda taça de espumante e já tinha escolhido seu próximo alvo. Acabara de chegar do primeiro job da noite e ainda deveria atingir a meta de mais, no mínimo, dois clientes. Diante de uma dose de whisky e sozinho na mesa oito, o rapaz bem-vestido não desviou o olhar quando ela começou suas investidas.

Esvaziado o copo, Carlos Henrique se dirigiu ao balcão e ocupou o banco ao lado dela, oferecendo-lhe outro drinque. A conversa foi direta, dispensando preliminares e solicitando rapidamente a conta para saírem dali.

No encontro anterior, Ludimila havia deixado seu cliente esmorecido na cama, elogiando sua performance e seus atributos. Mal sabia ele que o relógio Rolex que ele usava tinha ido parar na bolsa dela.

Carlos Henrique abriu a porta do carro com cortesia e ela sentou-se, oferecendo as coxas torneadas e aparentes através da fenda do vestido. Sem cerimônia, as mãos dele foram cheias de pressa se metendo no meio das pernas entreabertas, até molhar os dedos por baixo da calcinha que ela usava.

Levou-a a um flat, disse achar esse local mais seguro e asseado. Ela gostava quando um cliente se preocupava com isso. Fazia com que ela se sentisse bem cuidada, acariciando seu ego tão maltratado.

Desvencilhando-se das roupas com urgência, partiram alucinados um para o outro até que a parede os detivesse e servisse de escora para o amor selvagem e afoito. Ainda sob o efeito do gozo, abriram uma garrafa de vinho para acalmar os espasmos do corpo e aliviar a tensão provocada pelo prazer.

E de novo começaram a se explorar, e de novo se entregaram à abundância dos líquidos que seus corpos trocavam num movimento ofegante e sincronizado. Levados ao limite da exaustão, repousaram lado a lado para que a respiração voltasse ao compasso e os pensamentos pudessem ser coordenados.

Carlos Henrique foi o primeiro a ir para o chuveiro, deixando Ludimila ainda desacelerando na cama. Depois foi a vez dela de limpar a alma com água e sabão. Ainda dava tempo de empreender novamente antes do dia amanhecer.

Dispensou a carona que ele lhe ofereceu e escolheu o bar mais próximo para caçar outra presa. Na bolsa, além do Rolex, um cordão de ouro com pingente de letra V. Achou graça por Carlos Henrique portar tal objeto, mas não deu importância. Alguns gramas daquele nobre metal já ajudariam sua fortuna a crescer.

Do balcão do pub, seu olhar cruzou novo olhar para finalizar a jornada noturna, e, quis o destino, que ela terminasse a noite com saldo de um Rolex, um colar de letra V e alguns dólares do gringo, derradeiro da noitada. – Trabalho de profissional, como eu sou boa nisso.

Só deu falta dos brincos quando foi tirá-los para dormir. Procurou na roupa, revirou seus pertences e nada de achar a joia. Era seu adorno de estimação, seu amuleto da sorte, a primeira aquisição cara conquistada através do seu negócio. Tinha brilhantes e esmeraldas, esculpidas especialmente para ela por um ourives da sua confiança. Pensou terem caído por acaso, durante o sexo selvagem praticado no flat. Já era tarde para voltar ao local, e, pela manhã, com certeza não estariam mais lá. Acomodou-se no travesseiro contrariada e demorou a pegar no sono.

Do outro lado da cidade, Carlos Henrique despejava dos bolsos, sobre a mesa da cozinha da sua casa, um anel de noivado, uma carteira endinheirada e um par de adornos de orelha com pedrinhas brilhantes, brancas e verdes.

Confirmou mais uma vez sua excelência no exercício da profissão, e dormiu o bom sono dos justos.

Clara Lee

Clara Lee é escritora. Colaborou com o jornal "A Noite" na década de 1990, "Viletim" edição impressa década de 2000, ambos de Piracicaba/SP.

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